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domingo, 15 de maio de 2011

UM GRANDE GOLPE

UM GRANDE GOLPE



Quando jovem era meu desejo meu servir ao exército, e mesmo estando eu trabalhando na enfermagem, que era meu grande sonho, eu achei que existiam maneiras diversas de se conseguir o que se quer. E que mesmo que a estrada tenha muitas voltas, o que mais vale é termos a chance de chegar.
Motivo pelo qual eu abandonei o meu trabalho de enfermagem para seguir uma grande barca furada para uma aventura meio louca, mas que de repente até que foi válida, dependendo do ângulo que se olhe.
Acertei minhas contas no hospital e fui para o novo trabalho e minha vida nova. Minha vida nova; porque de trabalho eu não sei o que pensar até hoje. O caso é que eu deixaria tudo acertado com o proprietário, o Sr. Arlindo, segundo o qual eu começaria a trabalhar como vendedor em sua loja, tão logo chegasse à cidade. E tão logo cheguei à cidade me dirigi ao endereço que ele me havia dado, e fui ter com ele. Encontrei logo a loja que ficava bem em frente à estação de trens mas, qual não foi a minha surpresa quando ao chegar para contar-lhe que eu estava pronto para começar quando ele quisesse, ele me disse que eu estava sendo inconveniente e que ele sequer me conhecia e que muito menos me oferecera ou garantira emprego.
O pior foi o jeito como ele me tratou dizendo que eu deveria sair de seu estabelecimento ou ele chamaria a polícia. E eu tive que fazer isso mesmo. Com todo o meu ódio daquele homem saí tentando imaginar que graça ele poderia achar em brincar com a vida de uma pessoa daquela maneira.
Pus-me à rua com toda a minha indignação. E sem um tostão.
E estava eu numa cidade que não era a minha, apenas com uma mala de roupas e sem ao menos dinheiro para voltar, pois já que eu acreditara que iria trabalhar em uma loja havia gasto todo o dinheiro que recebi no hospital para comprar as tais roupas, e assim me apresentar melhor para o trabalho. Estava desesperado com a situação sentado à beira do Rio do Peixe que divide as cidades de Joaçaba e Erval d’Oeste, quando percebi um grande letreiro que anunciava o Hotel Erval d’Oeste.
Talvez isso tenha acontecido pela inspiração divina, e muito provavelmente pela situação desesperadora em que eu me encontrava, o fato é que eu resolvi arriscar e me dirigi até o hotel. Apresentei¬-me ao senhor de óculos que estava lá e contei a história toda, oferecendo-lhe a título de penhora um temo de linho que eu havia trazido para meu maravilhoso trabalho de vendedor na loja do Sr. Arlindo. Ele me arrumaria um dinheiro ficando com o terno como garantia e eu usaria este dinheiro para me alimentar enquanto tentava dar um jeito na minha situação. Mas, eu me batia pelas ruas da cidade e nada de conseguir o bendito trabalho, enquanto isso ia ajudando como podia no hotel para que pelo menos o dono desses, que se mostrou tão bondoso, não ficasse irritado comigo. E depois de algum tempo a sorte me valeu mais uma vez na pessoa do dono do hotel, que me arrumou um trabalho com um genro que fabricava carrocerias. E eu fiquei muito agradecido, apesar de ter um salário que mal dava para me manter. Nada parecido com a maravilha que eu estava esperando quando fui para a cidade, mas pelo menos, já me dava dignidade de poder sobreviver através de meu próprio esforço.
E o tempo foi passando até que faltavam apenas 10 dias para que eu me apresentasse no quartel e me aconteceu um acidente no trabalho.
Coisa engraçada quando contada para meus amigos hoje em dia, mas que naquele tempo não teve graça nenhuma. Imagine a situação: toda vez que as coisas pareciam estar entrando nos eixos acontecia alguma desgraça na minha vida. E dessa vez a desgraça se apresentou num dente quebrado, quando caí e bati a boca. Ora, mas um dente quebrado não deveria ser encarado como uma calamidade. Em situação comum, até que não. Mas, lembro-lhes que eu já citei anteriormente ser de meu desejo servir ao exército e com dente quebrado seria quase impossível que eu fosse aceito.
Motivo pelo qual decidi gastar minhas mirradas economias e o dinheiro que consegui vendendo mais alguns objetos dos poucos que ainda tinha, na reposição do dente perdido naquela verdadeira calamidade. E isso acabou me deixando sem o dinheiro para pagar a passagem. Calamitosa tragédia.
Quando chegou o dia da véspera da minha apresentação no quartel, eu me dirigi até a estação rodoviária para com o dinheiro que havia conseguido, comprar a tal passagem, mas, faltou um tanto que eu hoje não saberia precisar.
E de nada adiantou o quanto eu expliquei meus infortúnios e pedi descontos, e até o fato de que eu tivesse compromisso com e exército não sensibilizou o senhor que vendia as passagens. Eu garantia que pagaria tudo quando chegasse a Francisco Beltrão, pois o dinheiro que faltava não era muito e eu tinha conhecidos naquela cidade que certamente não se negariam a emprestar-me o dinheiro.
Mas, como disse de nada adiantou. Aí, me veio uma nova inspiração, que nem era tão nova assim. Seria novamente uma penhora, só que agora com um detalhe que me deixa envergonhado até hoje. E que eu afirmo ter feito tal coisa somente porque minha situação não deixava antever uma única possibilidade.
Dirigi-me até um local que vendia bijuterias e comprei um bonito anel com uma pedra vermelha. Como já disse sobre a passagem eu não saberia dizer quanto paguei no tal anel, mas, me lembro muito bem que o dinheiro que eu tinha e que fora insuficiente para pagar a passagem daria para comprar 5 desses anéis. Dirigi-me ao motorista do ônibus e contei-lhe uma história bastante triste sobre o tal anel, que segundo a história passou a ter mais de 60 anos, e que teria sido presente de meu pai, tendo assim muito valor para mim; muito mais valor do que ouro de que era feito ou que o rubi que tinha incrustado. Dar-lhe-ia o anel para que pudesse viajar e quando chegasse à cidade eu emprestaria o dinheiro da passagem e o procuraria parar resgatar o anel de “tão grande valor”.
E é aqui que, em minha opinião esta história começa ficar realmente interessante. Eu afirmo e garanto que tinha a intenção de voltar para pagar a passagem e resgatar o anel, continuando a farsa e me mantendo íntegro, mas o que o destino nos ensina tem sempre um valor muito maior do que qualquer anel de ouro: verdadeiro ou falso.
O motorista era uma destas pessoas que se achavam muito espertas e quando viu a suposta chance que tinha na mão, tratou de aproveitar. Disse-me que eu somente poderia fazer da seguinte maneira: como ele não acreditava que eu fosse voltar para recuperar o anel, ele me daria um valor que julgava justo pelo anel e que poderia pagar a passagem, com dinheiro e ainda ficar com algum, mas que o anel era propriedade do motorista partir daquele momento. E me lembro com vergonha que apesar de a proposta dele ser melhor que a minha fiz uma grande choradeira que terminava com pesar que eu sentia em ter que lhe vender o anel já que não havia outro jeito.
E aquele senhor deve ter se sentido muito constrangido quando descobriu o tipo de ouro que era feito o anel. O tolo de ouro.
Eu não sei se dessa história pode se aprender algo mais do que eu já sabia antes de ela ter acontecido, e que me ensinaram meus pais desde minha mais tenra infância: não se devem enganar nossos semelhantes. Nem tentar se aproveitar deles, tomara que o motorista tenha aprendido.







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